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O universo de longas exibidos nos últimos 30 anos do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá

foi primordialmente fruto de uma curadoria muitas vezes solitária que desenvolvi a partir de minha participação em outros festivais brasileiros e alguns fora do Brasil. Essa aventura foi construída assistindo anualmente a centenas de filmes, convencendo realizador@s e produtor@s a participarem de nosso Festival em uma praça tão inóspita ao cinema brasileiro como a cidade de Cuiabá. Já há muitas edições, no que diz respeito ao processo de seleção dos filmes de curta duração, a programação do Cinemato se constitui pelo intercâmbio de olhares formado a partir das comissões de seleção que nos ajudaram a constituir mais de uma dezena de edições, sempre buscando diversificar e democratizar olhares e debates em torno de obras produzidas em diferentes cantos do país.
Neste ano da vigésima primeira edição do Cinemato, a experiência de curadoria compartilhada se alargou para o terreno dos filmes longos, onde pudemos contar com uma equipe especializada de profissionais do setor: professores, diretores, produtores e atores. À tod@s el@s, toda a gratidão do mundo.
O universo dos filmes exibidos nesta edição é de uma beleza única, de um imaginário fértil e diversificado. Qualidades estas que se enlaçam de forma perfeita ao tema desta edição: o mito milenar da Pachamama. Presente na cultura de diversos povos sul americanos, foi na esteira do movimento hippie e new age dos nos 1950/60 que Pachamama atravessou as fronteiras planetárias. O tema conclama à uma necessária e urgente reflexão a partir das imagens simbólicas do cinema e as duras imagens da realidade da forma como ora se apresenta: beligerante, genocida, ameaçadora da vida de todos os seres do planeta. Pachamama clama pelo amor perdido, pela beleza brutalmente assassinada, a fertilidade e a ancestralidade. Senhora do tempo e da vida, onde a terra imersa em trevas pode se encontrar com o céu luminoso, seu consorte: Pachakamac.
O tema remete ainda à necessidade de ética nas relações entre os seres humanos e a natureza, particularmente entre o feminino e o masculino. Relações estas que urgem ser repensadas em meio às normatividades sociais, às disputas de territórios, às crises econômicas, climáticas e ambientais. Pachamama deve ser encarada como sujeites de direito, reconhecides constitucionalmente para que a vida seja um “bem viver”!

LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA BORGES
IDEALIZADOR E CURADOR DO FESTIVAL CINEMATO

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