apresentação

Enfim, chegamos a mais uma edição do nosso querido Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – CINEMATO. Neste ano, estamos munidos de um sentimento de vitória por esta conquista que partilho, neste momento, com as importantes instituições do audiovisual brasileiro e mato-grossense, a quem desejo uma prazerosa “chuva de pequi”, como dizem os cuiabanos.

“Decolonizando a Amazônia” – tema desta edição que ora apresentamos para o deleite dos espectadores – é fruto de um longo trabalho de reflexão sobre esse importante território, do qual Mato Grosso também faz parte, além dos tradicionais e conhecidos biomas como o Pantanal, o Cerrado e o Araguaia.

A rica e exuberante formação do bioma amazônico, por vezes, vela a histórica presença e as identidades de seus povos diversos: os habitantes originários, as comunidades tradicionais e os fluxos migratórios que acorreram à região. Sob essa perspectiva, a Amazônia é vista como pura e virgem, como se tivesse sido “descoberta” pelo olhar do colonizador. Sua beleza oculta que ela também é dotada de um passado e um presente preenchidos por disputas. Com raras exceções, esse processo produziu e intensificou o flagelo dos mais vulneráveis que a habitavam, em grande parte devido à exploração descontrolada de suas riquezas naturais, capazes de gerar grandes lucros.

Refletir sobre a Amazônia com outros olhares, revisitar seu passado, enfrentar os desafios presentes – como as emergências climáticas – e apontar novos caminhos para a preservação da vida são a razão de ser desta edição. Tudo isso se materializa na enxurrada de filmes que invade a capital do estado, em uma programação aberta, gratuita e participativa para todos os presentes – ou para quem assistir aos filmes online.

Nesta edição, a equipe de curadoria teve um papel imprescindível. Em um curto espaço de tempo, teve de assistir e avaliar, estoicamente, cerca de 458 filmes inscritos (49 longas e 398 curtas-metragens e 11 que foram desclassificados por não cumprirem o regulamento) – um número recorde que, paradoxalmente, revela novos interesses.

Apesar de Cuiabá não ser uma cidade convidativa para as grandes produções brasileiras que circulam e são premiadas em festivais internacionais – já que, na lógica de seus produtores, não há espaço nas salas de cinema locais para lançamentos, especialmente de filmes independentes –, a grande quantidade de longas inscritos só pode ser compreendida, a meu ver, como resultado do investimento exponencial do governo federal por meio da Lei Aldir Blanc e da Lei Paulo Gustavo no setor. Essas políticas preencheram, de forma vigorosa, a ausência das mencionadas produções, abrindo espaço para que filmes inéditos possam encontrar, pelo menos em uma única exibição, seu público nesta cidade – e no mundo.

A realização desta edição mobilizou, mais uma vez, um grande esforço de cooperação interinstitucional no estado. Em primeiro lugar, destaca-se o patrocínio essencial do Governo do Estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Cultura (Secel).

Indispensáveis foram os parceiros históricos que permanecem conosco nessa empreitada, como o Canal Brasil, a Assembleia Legislativa do Estado, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a Pró-Reitoria de Cultura e Vivências desta universidade, o Cineclube Coxiponés e o Curso de Cinema e Audiovisual da UFMT.

Novos parceiros surgiram, como a Cinemateca Brasileira e a Sociedade dos Amigos da Cinemateca Brasileira. Outros retornaram após décadas de ausência, como a Prefeitura de Cuiabá, por meio de sua Secretaria de Cultura – cidade que dá nome ao evento. Desta instituição, contamos também com a Secretaria de Assistência Social e o Conselho dos Idosos.

A imprensa brasileira e mato-grossense merece nossa gratidão, assim como os produtores e realizadores deste país e deste estado, que atenderam, em tempo exíguo, ao chamado para as inscrições. Um agradecimento especial à equipe que, bravamente, aceitou mais um desafio, bem como a todos os prestadores de serviços e fornecedores essenciais para a realização deste evento.

Por fim, o farol que ilumina e orienta a realização deste evento há mais de 20 anos: o Instituto INCA – Inclusão, Cidadania e Ação.

Cheguei, enfim, à minha melhor idade – agora, aos 64 anos – e agradeço a Deus e à espiritualidade superior pelas forças mobilizadas para este fantástico arranjo, que reuniu tantas pessoas em mais esta grande festa mato-grossense, para deleite dos olhos e das mentes dos espectadores.

Como é natural com o avançar do tempo, questões ligadas à nossa permanência neste plano emergem das águas profundas do rio da existência. Esse sentimento, porém, se dissipa quando vemos o brilho de satisfação e alegria nos olhos de quem participou e se recorda das inúmeras edições deste festival. Afinal, criamos, na contramão da história, um dos festivais de cinema mais antigos do Brasil – o segundo mais antigo do Centro-Oeste, depois do Festival de Brasília – em um dos momentos mais difíceis para o cinema nacional: a extinção da Embrafilme, em 1990.

Até o 23º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – CINEMATO!

Luiz Carlos de Oliveira Borges
Idealizador e Produtor do Festival

Luiz Borges , cineasta e curador
Luiz Borges, cineasta e curador do Festival de Cinema de Cuiabá há mais de 30 anos. Apaixonado pelo cinema e pela diversidade cultural, Luiz dedica-se a promover a produção audiovisual local e internacional, criando uma plataforma inclusiva para cineastas e amantes da sétima arte. Sua visão e compromisso são fundamentais para o sucesso e prestígio do festival.
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